sábado, 6 de novembro de 2004

Get Over It

1-) Eu passei anos decidindo o que eu iria tutuar no meu corpo. Eu levo as coisas muito á sério, minhas amigas dizem, mas uma tatuagem, para mim não é só uma tatuagem. É exttensão do que eu sou e do que eu penso, e como eu me preocupo com quem eu sou e penso! Finalmente, eu encontrei semanas atrás, algo que reflete quem um pouco do que eu acredito, no blog do filho do meu chefe que viva na França há anos (o blog aliás é ótimo e hilário). O significado da tatuagem é “A Pátria que eu prefiro é a Terra.” Isso porque toda esta questão de país e fronteiras tem um peso muito forte na minha vida. E se agrava a cada vez mais. Eu tenho o dom de viver em locais que odeio. Odiava Campinas com todo meu coração, já fiz posts e mais posts sobre isso, odiava, acima de tudo, o regionalismo presente em Campinas, a ignorância, o preconceito. Uma das coisas que eu mais odiava no Brasil, e que eu sinto até hoje, é a típica situação-Katie (do filme The Way we Were), na festa na casa dos amigos de Hubbell quando todo mundo rindo e fazendo piada das desgraças que o país vive, ninguém mexendo uma palha para mudar nada, pelo contrário, sentados rindo de piadas imbecis a respeito de coisas seríssimas. Esse negócio de achar que fatos absurdos são normais me tira do sério, eu sou capaz de verdadeiros escândalos, exatamente como no filme. Já hoje, eu vivo num local o qual eu não tenho orgulho nenhum de viver. Depois de Abdu Gharib, Guantanamo Gay, Hallibirton, e todas as mentiras que estão incluídas no meio disso tudo, denunciadas por filmes como Control Room, September 9/11, e uma porção de outros da família olha-que-filho-de-uma-puta-que-este-presidente-é. Vamos às eleições e elegemos novamente o mesmo cara que autorizou uma guerra tão injusta. É, no mínimo, decepcionante. Não vou nem entrar no mérito dos abusos e injustiças que eu já passei aqui por conta de não ser uma cidadã norte-americana, nem nas coisas horríveis que eu já escutei por ter nascido brasileira. Por eu ser totalemente contra qualquer tipo de patriotismo, este desenho abaixo vai ser tatuado nas minhas costas em breve.





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2-) Acabei de re-assistir Control Room. Chorei demais. Raramente eu choro num filme de ficção, agora, quando eu vejo uma coisa na tela da TV que é verdade e que muita gente apoia, eu desabo mesmo. Choro mais ainda todas as vezes que eu penso nos resultados das eleições. Como podem 60m. de idiotas re-elegerem este cara? O resultado foi especialmente triste para mim. Eu estou lutando tanto para ficar neste país. Só eu sei o quanto eu estou sofrendo para que isso aconteça e hoje eu não consigo enxergar meus objetivos claramente mais. Para quê ter assitido a Embbeded, Control Room, ido á passeata, escrito textos e mais textos? Eu estou profundamente triste. Lutar tanto para permanecer em um local melhor já não tem mais sentido na minha cabeça. Porque o lugar melhor parece ser em outro local.


Às vezes eu sou tão inocente, e tenho crenças que não vão me levar a lugar nenhum. Isso me aborrece tanto. Será que eu terei que mudar de páis até quando? Será que existe um local que seja justo?


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3-) Publiquei, quando assisti o filme a primeira vez nos cinemas, um texto sobre Control Room no Imprensa Marrom. Como o site está fora do ar, estou republicando uma parte do rascunho aqui.


Jehane Noujaim cresceu entre dois mundos, com a mãe americana e o pai egípcio, se dividiu entre o Cairo e Nova York, aprendendo assim, a valorizar duas culturas completamente diferentes e entender os dois lados.


Quando a guerra estava prestes a começar no Iraque, ela sentiu que deveria fazer algo, entrou em um avião e se dirigiu ao Qatar, onde fez o filme Control Room. A documentarista estava à procura de respostas para suas dúvidas sobre a guerra e encontrou um novo mundo de informações, a Tv Al Jazeera.


“Eu acreditava que se eu fosse para o Qatar eu ganharia acesso à mídia Americana e Árabe, e que se eu pudesse pisar nestes dois mundos, simultaneamente, eu entenderia melhor como as duas culturas, das quais eu faço parte hoje, poderiam ver a guerra de uma forma tão diferente,” afirma Noujaim.


Control Room conta com as lentes de Noujaim voltadas para a guerra e o papel da mídia neste contexto. O filme mostra como a cobertura das maiores redes televisivas americanas (CNN, Fox, CBS, ABC e BBC) foi destorcida e é patriótica a ponto de não reportar fatos importantes e esconder imagens de ataques e civis iraquianos mortos, mutilados, crianças feridas e corpos de soldados norte-americanos. Do documentário de Jehane Noujaim fica claro o que significa levar informação ao público através da Tv.


Na sede da rede de Tv que se propôs a ser a voz do mundo Árabe, Noujaim acompanhou o desenrolar da guerra ao lado de três dos personagens principais do longa-metragem: Capitão Josh Rushing (Oficial Militar da Mídia Norte-Americana), Hassan Ibrahim (jornalista da Al-Jazeera, ex-BBC ) e Samir Khader (diretor de redação da Al-Jazeera ). Eles ajudaram Noujaim a mostrar a complexidade da divulgação de informações durante uma guerra.


“Eu vi muitas guerras em primeira-mão, do conflito Iran-Iraque às guerras na América Latina, passando pelo Líbano e Sudão. A única conclusão que eu consigo tirar é que guerra nunca é a resposta. Violência só gera mais violência e acredite, isso não é um cliché,” declarou Hassan Ibrahim


“Antes da guerra eu estava escalado para integrar o CentCom (escritórios de correspondentes das principais redes de Tv e jornais do mundo ), para engajar discussões online. Minha proposta não era vender a guerra e sim parar de distribuir informações erradas. Mais de um ano se passou e eu me sinto desapontado de paracer tão pró-invasão. Eu ainda sonho com um Iraque que é democrático, unificado e multi-étnico, que não tem armas de destruição e não é ligado a terroristas. Um país em paz com seus vizinhos,” disse o Capt. Josh Rushing. .


“As ruas do Iraque eram as mesmas que eu costumava a conhecer há trinta anos atrás. A mesma paisagem, com uma única adição: às vezes se via tanques de guerra Americanos passando sem serem notados pela população, que se acostumou com tais coisas... A maioria dos Iraquianos hoje estão bravos, decepcionados consigo mesmos.,” disse Samir Khader.



A rede de Tv árabe, constantemente alvo de críticas por parte da Casa Branca e do Pentágono – descrita pelo secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld como “porta voz de Osama Bin Laden” – mostrou as verdades da guerra, através da paixão do grupo jornalístico presente na Al Jazeera. Em resposta aos ataques à rede Samir Khader diz uma das frases-chave do filme: “Nosso foco está no ser humano”.



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