O post dalí debaixo está uma vergonha. Eu sabia que eu não teria folga durante todo o mês de dezembro para ajudar minha chefe a fechar as edições especiais do jornal de Natal e Retrospectiva. Depois da virada tinha os preparativos para o concerto da Bachiana Chamber Orchestra do Brasil no Carnegie Hall, que o jornal está organizando, e que o meu primeiro dia livre seria 7 de janeiro.
Mas, mesmo assim, eu jurei de tudo quando é forma que ia fazer um último post do ano de gente, uma lista de lembranças das coisas boas que aconteceram em 2006. Era uma forma de contrastar com tudo o que aconteceu de ruim, o ano foi especialmente difícil. É claro, mais coisa ruim apareceu e eu acabei não conseguindo terminar como gostaria.
No meio do caminho minha mãe, que dá aula para crianças especiais em uma das maiores escolas de Campinas há 27 anos foi demitida. Vou tentar não me prolongar no assunto, porque realmente me enfurece e, em segundos, as únicas coisas que eu consigo pensar são em todos os palavrões que eu conheço.
Só quem tem conhecimento do contexto é que entende o porquê eu fiquei tão triste. Eu fui criada dentro daquela escola. Foram 14 anos estudando no mesmo local. Minha mãe se casou lá, me batizou lá. Aquilo foi a vida e carreira dela. A dor que ela sentia era muito maior que a que eu senti, eu sei. Mas me cortou o coração ver a mulher perder uma das coisas mais preciosas da vida dela. Foi como se tivesse acontecido comigo.
Isso me afetou tanto que eu caí doente dos rins e passei quatro dias no hospital na última semana antes do Natal. Delírios e delírios de febre. Conclusão: os dias que eu deveria estar trabalhando eu estava rolando de dor na cama. Atrasos e mais atrasos, correria enorme, não conseguimos a folga esperada durante os feriados de final de ano.
Acabou tudo sendo meio nas coxas. Os presentes de Natal, a não existência de nenhum cartão, a falta de comemoração, o Réveillon dentro de casa...Outras coisas vieran encher a cabeça, meus landlords acham que meu namorado é um árabe que entra constantemente na casa deles sabe-se lá para quê e meu cartão foi roubado online e fizeram uma festa na minha pobre conta bancária.
Finalmente chegou a véspera do meu descanso. É dia do concerto e em meia hora eu tenho que deixar a redação direto para o teatro, sem ter tempo de tomar um banho ou me arrumar direito. Depois das 10 horas da noite eu estou oficialmente de folga até a manhã da segunda-feira e God knows how tired I am.
Vou me obrigar a ir ao cinema, já que estarei na cidade mesmo, e fazer alguma coisa da vida. Caso contrário, sei que me enfiarei na cama e sairei de lá no último segundo da segunda-feira, antes de trabalhar novamente.
Dá para pensar no que eu quero de ano novo desta forma? A única coisa que eu visualizo é uma cama. Juro. E isso tudo não é reclamação, não!
Desde de lá de cima? Eu acho que a demissão de mamãe veio para o bem de todos. Ela tinha que fazer alguma coisa diferente, eu não acho que passar a vida inteira no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa, é muito mérito. Tô feliz que agora ela será obrigada a ter experiências novas, em outros lugares. No mais, se ela vier morar aqui comigo, eu é quem vai acabar ganhando.
Ficar doente é bom para eu ver que eu não aguento tanta coisa nas costas sozinha. Ou eu começo a delegar pequenas tarefas para as pessoas envolvidas na minha vida, ou eu vou cair mesmo. Infelizmente, por mais que eu queira, eu não sou um superherói. Não sou o homem múltiplo.
De resto, a correria fui eu quem escolhi. Poderia ter escolhido me casar com um homem rico, ou sei lá, ser professora e ter três meses de férias por ano, como a Maria Lúcia tem. Mas não. Eu escolhi ser pobre e trabalhar sem folgas. Toma!
Sobre o concerto? Maestro João Carlos Martins, problemas nas mãos fez ele abandonar os pianos e estudar regência. Criação da orquestra que está se apresentando pela primeira vez em New York e ele retornando ao Carnegie Hall após 25 anos. É emocionante. Logo da campanha Amazon Forever, que o show beneficiará, desenvolvido por Milton Glaser, que eu tive o (des)prazer de entrevistar no outro dia.
Enfim, a vida caminha...
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