ou, a cada dia mais sinto a incontrolável vontade de me transformar em uma ogra. Ou lésbica...
Vanessa Mael
EXTRA USA
Este é um momento crítico para a indústria da moda. A discussão sobre como o padrão de beleza estabelecido pode agredir a saúde das modelos cresceu e, até quem não é ligado ao setor tem dado sua opinião. Estariam, as modelos, magras demais? O mais preocupante disso tudo é o peso que esta tendência tem sobre a sociedade atual.
Celebridades, sejam modelos, atrizes ou cantoras, são o referencial de beleza de muitas mulheres. Hoje, está estabelecido que ser magro é sinônimo de ser bonito. Entretanto, é necessário alertar para os riscos que isso pode causar para a saúde, principalmente das adolescentes, que ainda se encontram em período de crescimento e podem desenvolver sérios distúrbios alimentares.
As discussões sobre qual seria o nível de magreza aceitável para as modelos vieram à tona quando a organização da Semana de Moda de Madri obrigou as modelos a apresentar um índice de massa corporal (IMC) superior a 18. Aquelas que não atendessem à requisição foram dispensadas da principal semana de moda espanhola.
Distúrbios alimentares
Uma série de comportamentos são dicas claras de que uma adolescente pode ter desenvolvido distúrbios alimentares. Aquela amiga que vive de regime ou usa indiscriminadamente inibidores de apetite ou outros medicamentos como laxantes e diuréticos é forte candidata a desenvolver doenças como anorexia ou bulimia.
Jejuar ou vomitar após as refeições também são comportamentos padrão entre as meninas que querem perder peso com rapidez e, fortes indícios de transtornos alimentares. Um por cento da população feminina entre 18 e 40 anos sofre de algum tipo de transtorno relacionado à alimentação.
Os transtornos alimentares são um fenômeno mundial e nos últimos anos se tornaram uma epidemia. De um modo geral, o pensamento das pessoas que apresentam algum distúrbio alimentar se caracteriza pela busca da perfeição do corpo e pela obsessão pela imagem de um ídolo.
“Reduzir excessivamente a ingestão de alimentos, eliminar refeições, passar uma semana inteira bebendo líquidos são atitudes que se parecem mais com autoflagelação do que com uma dieta. A auto-imposição de grandes sacrifícios e de metas absurdas não favorecem o processo de emagrecimento”, afirma a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva, diretora-clínica do Centro Integrado de Terapia Nutricional - CITEN.
Padrão “Stepford Wife”
Existem, ainda, outros motivos psicológicos mais sérios que levam ao desenvolvimento de práticas de autoflagelação que estão profundamente enraizadas na sociedade atual. Em busca do corpo perfeito, muitas mulheres se tornam verdadeiras “Stepford Wives”.
O conceito vem do nome do filme de suspense de 1975 de Bryan Forbes, regravado em 2004 por Frank Oz, com Nicole Kidman no papel principal. A história original conta que Joanna Eberhart, ao se mudar com seu marido para a pequena cidade de Stepford, CT, tem o seu maior pesadelo feito realidade: lá, os maridos matam as esposas, substituindo-as por robôs, que são esteticamente perfeitos e foram criados apenas para servir, cozinhar e fazer sexo.
Muitas mulheres, hoje em dia, ainda adotam comportamentos que levam a distúrbios alimentares tentando agradar seus namorados ou maridos. O medo real de que são os homens que impõem os padrões de beleza, exigindo que suas companheiras sejam tão magras ou bonitas quanto modelos das capas das revistas de moda, faz com que as mulheres se autoflagelem.
Beleza é saúde
É muito importante estabelecer a idéia de que beleza é saúde, e que os dois conceitos estão estreitamente interligados. A dieta ideal é aquela que emagrece e alimenta ao mesmo tempo. Todas as vezes que optamos por seguir uma dieta restrita, perdemos muito mais do que as gordurinhas que nos incomodam tanto.
“Perdemos saúde e perdemos beleza. Perdemos gordura sim, mas perdemos também componentes muito importantes para a beleza e juventude, como o colágeno, que dá saúde e beleza ao cabelo e à pele. E não adianta ingerir cápsulas de colágeno, pois serão totalmente ineficientes”, explica a médica Ellen Simone Paiva.
Outro problema comum entre os que fazem drásticas restrições calóricas é o aparecimento da desnutrição, pois é impossível garantir a ingestão dos micronutrientes básicos, como as vitaminas e os minerais. Muitas mulheres adotam as farmácias GNC (General Natural Center), de produtos naturais, presentes em todo o território norte-americano, como se fosse sua visita semanal ao supermercado.
É muito comum o pensamento de que cápsulas de gelatina e colágeno ou vidros de vitaminas especiais para mulheres, ou vitaminas de A a Z, podem substituir o que é perdido quando se pula uma refeição.
Entre os maiores riscos nutricionais estão a falta de ferro, cálcio e vitaminas. “As mulheres são mais vulneráveis, pois menstruam todos os meses e a perda de ferro não reposta resulta em anemia. O cálcio não ingerido resulta em massa óssea insuficiente para garantir as perdas naturais da maturidade e todas as vitaminas em falta na puberdade se traduzirão em menor potencial antioxidante no futuro, impossível de serem repostas através das mega-dosagens de vitaminas, atitude totalmente ineficiente e muitas vezes arriscada”, alerta Ellen Paiva.
Então, o que fazer?
“Reconhecer que todos os seres humanos precisam se alimentar, pois são os alimentos que nos fornecem energia e nos dão disposição para o desenvolvimento das atividades diárias. Saber que a melhor forma de perder peso é se alimentando corretamente”, aconselha a nutróloga.
Para emagrecer com saúde é necessário que um plano complexo seja seguido. Tudo tem início com uma visita ao endocrinologista, que fará exames e dosagens de hormônio para estabelecer se existe alguma disfunção corporal. Somente após esses exames será possível saber se existe algum problema com o metabolismo da paciente.
Um dos problemas mais comuns, descobertos através de exames, é a disfunção da tireóide. Também, após os 30 anos de idade, o metabolismo feminino desacelera naturalmente. É necessário aceitar os ciclos da vida e procurar sempre a ajuda de um profissional.
O segundo passo seria uma consulta ao nutricionista, para a criação de um cardápio balanceado, que atenda as necessidades diárias de cada pessoa, sem causar nenhum risco à saúde ou privar o corpo de qualquer nutriente. É nesta fase que será recomendado o uso de vitaminas complementares ou cápsulas de colágeno e gelatina.
Pular refeições para emagrecer é uma conduta muito comum que deve ser evitada, principalmente durante o jantar. Muitas pessoas não jantam com receio de que o corpo não metabolize os alimentos com a mesma agilidade da hora do almoço, o que não é real. “Todas as vezes que pulamos refeições, deixamos de ser seletivos e abusamos na próxima refeição. Todas as vezes que fazemos jejum prolongado, nosso corpo ‘lê’ essa situação como escassez de alimentos e se protege, reduzindo a queima calórica”, explica a especialista.
Outro grande mito é a retirada do carboidrato do jantar. O ganho de peso não ocorre pela presença deste componente de nossa dieta e sim quando o total calórico ingerido no dia é maior do que a queima. Da mesma forma que a perda de peso não ocorre com a suspensão do carboidrato das dietas, sempre que se consegue ingerir menos calorias do que se gastou. “Isso é muito mais fácil e seguro de se conseguir com a adoção de uma dieta balanceada”, defende a endocrinologista Ellen Simone Paiva.
E, por último, os exercícios físicos vão mostrar o resultado desejado. É sempre seguir uma lista de boas práticas de alimentação, conciliando o emagrecimento com a preservação da saúde e incluindo o exercício na rotina diária.
Regras do emagrecimento saudável
As regras do emagrecimento saudável sugeridas por qualquer profissional incluem sempre o consumo de alimentos variados em três refeições e dois lanches diários. O ideal é estabelecer uma rotina de alimentação seguindo o relógio e parar para comer, de três em três horas, quantidades reduzidas de alimentos.
Muitas pessoas esperam até completar dez ou vinte quilos a mais na balança para correr atrás do prejuízo. É importante não subestimar um ou dois quilos a mais e correr atrás para perdê-lo. Como? Através da prática de atividades físicas todos os dias. Na falta de tempo, inclua na rotina a prática de andar a pé, subir escadas e dançar. Arrumar seu quarto também queima calorias, só não vale ter preguiça.
Se for ingerir arroz e feijão diariamente, como é de costume dos brasileiros, é melhor fazê-lo acompanhados de legumes e vegetais com folhas. Também é importante a ingestão de quatro a cinco frutas diariamente.
É possível adicionar ao cardápio refeições com carboidratos integrais como pães e arroz e reduzir a ingestão de açúcar associado às gorduras como os sorvetes, chocolates e tortas. Isso não significa abolir a sobremesa dos seus sonhos. Ela só não pode ser uma rotina na sua vida.
Na hora do lanche, priorize as frutas ao invés de biscoitos, bolos e salgadinhos, e tente não comer muito sal, evitando alimentos enlatados e embutidos como salame, mortadela e presunto, que têm sal. Evite também adicionar sal à comida já preparada.
Dê preferência ao leite desnatado e consuma produtos lácteos com baixo teor de gordura, pelo menos três vezes ao dia, além de ingerir muita água. É a mais fácil de todas as práticas.
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