quarta-feira, 20 de abril de 2005

Mexico

Há quatro meses atrás meu escritório mudou de Belleville para Newark. Desde então eu estou acostumada a ser olhada como ET quando digo que "Não, eu não entrei pelo México," ou "Sim, eu entrei com visto de trabalho," e até, "Não, eu não nasci aqui." 99% dos brasileiros que moram nesta área aqui entraram no país ilegalmente. Ou pelo Mexico, ou com visto falsificado.

O mais engraçado é que o pessoal não faz esta loucura apenas uma vez não. Dois dos meus chefes (eu tenho 3 major chefes e suas respectivas esposas), não só entraram pelo México como não deixam de tirar férias no Brasil. Um deles me disse que não deixa nunca de visitar o país, conhece todos os melhores coiotes e todas as formas de visto falsificado. Duas vezes ele entrou no país passando pela imigração normalmente com um passaporte comprado e só sua foto alterada no visto. Das outras ele veio pelo México.

São histórias fascinantes. Não há como não imaginar por quê uma pessoa se mete a fazer algo deste tipo? Que tipo de vida miserável no Brasil esta pessoa tinha para se submenter a isso? É tão melhor assim a vida aqui? Até que ponto isso vale a pena?

Um dos meus chefes está trazendo os três filhos da atual esposa, todos vindos pelo México. Até perguntei se ele não tem medo, disse que se fosse minha família eu nunca os submeteria a isso. Ele, "bobagem, eu conheço todos os coiotes que estão naquela fronteira, eles vão vir com tratamento de primeira classe, nem vão ter que andar."

Hoje, este mesmo chefe me pediu para digitar a carta que ele escreveu para a mãe há 12 anos atrás quando chegou na América pela primeira vez. As folhas estão amareladas, se despedaçando, ainda asism é impossível não se emocioar. Esse povo tem uma coragem imensa.

Eu continuo sem entender tudo isso. Às vezes, quando eu páro para pensar na minha vida eu fico em dúvida se eu não estou fazendo merda. Enquanto eu poderia estar vivendo no Brasil, uma vida normal de uma menina de 19-23 anos, dentro da casa da mãe, perto da minha família e amigos, ter me formado, ter carro, ter o direito de dirigir eu vivo aqui. Eu larguei a vida fácil de lá porque amo outro lugar. Só sou feliz aqui, nas minhas dificuldades diárias, porque eu tenho um orgulho imbecil de dizer, desde os 19 anos, eu não vivo com nenhum centavo da minha mãe.

Não sei quem é o mais burro, eu ou eles. Eles que estão lutando por uma vida melhor, e estão conseguindo e eu que de melhor aqui não consegui nada. Quando se eu estivesse no Brasil poderia estar formada, trabalhando na miha área, perto de gente que amo, com mordomias aos meus pés, nunca ter engordado assim, mas mesmo que tivesse poderia emagrecer fácilmente, poder operar ,meus olhos mípes, tratar meus pulsos fodidos e meus joelhos doídos...

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Depois que eu digitar a carta eu copio os trechos mais interessantes aqui!
O meu lado jornalista não deixa de espiar como a gramática do meu chefe era boa, mesmo assim eu quero "editar o texto."

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